quinta-feira, 30 de junho de 2011

O reino das lembranças


i.

Reino das Lembrança. O rei Telldrasil estava a sair de seu castelo montado em um cavalo de pelo macio, marrom. Uma pequena guarda de dois soldados o acompanhava. Curvou seus olhos para baixo e observou rapidamente o fosso que ficava em volta do castelo enquanto passava pela ponte. Aquele era chamado o Fosso das Águas Profundas, nele não se consegue enxergar o fundo. Há cem anos que o castelo foi atacado pela última vez, até hoje não se conseguiu remover os corpos afundados. Alguns até dizem que eles não tocaram ainda o fundo do fosso, apenas continuam caindo. Imaginou como seria se ele fosse o rei de cem anos atrás. Uma guerra, um ataque,um cavaleiro em investida e uma lança atravessando seu peito fazendo com que caísse imóvel no Fosso das Águas Profundas.
O reino das lembranças passou por uma época de desastre, em estado de sítio, que durou 80 anos. O rei tem vinte anos e está a cinco no poder. O seu pai passou trinta e três anos no poder. Seu avô vinte e nove. Seu bisavô trinta e oito e o pai deste último vinte, terminando seu reinado no mesmo dia em que caiu no fosso. O reino agora aparentemente está se estabilizando, já que o estado de sítio foi findado no mesmo mês do nascimento do príncipe, o atual rei. Telldrasil é certamente o rei que lembra a esperança.

-É certo que devemos fazer uma visita ao oráculo antes de prosseguir viagem, vossa alteza. Disse Sheenon, um dos soldados, com um tom de servidão e amor ao rei.

Todos esperavam que o oráculo desse boas notícias para o rei e seu povo. Era preocupante o fato de os últimos três reis terem sido assassinados e Telldrasil ter assumido o cargo mesmo sem ter uma rainha ou um filho para deixar o trono. Seu pai foi morto no dia do seu nascimento por um grupo de mercenários que trabalham para alguém que deseja roubar o tesouro real, só não se sabe se são os mesmos que atacaram o o Reino das Lembranças a cem anos atrás. Nos últimos quinze anos o reino foi governado pelo chanceller e sua mãe, a rainha, está desaparecida.

-Certamente que iremos nobre cavaleiro. Afinal, é de nosso interesse saber do futuro do reino.

Rapidamente deixaram o centro da capital do reino. Após apenas uma hora de viagem avistaram uma caverna. O rei e seus guardas descem dos cavalos e os amarram em árvores. Era uma planície com algumas árvores, alguns esquilos passeavam aproveitando o verão buscando suas nozes. A caverna formada em um pequeno monte era escura e logo em sua entrada podia-se perceber que era de descida difícil. Após certos quinze minutos de caminhada podia-se começar a ver luzes, verdes, roxas, verdadeiras profusões... as paredes se transformavam e sombras de homens, coisas e lugares que não existiam estavam a dançar na rocha. Cheiros de perfumes e sons de belas músicas cantadas por um coro de mulheres eram perfeitamente claros. Só não se sabe de onde tudo isso vinha, só se sabe que quanto mais se penetrava na caverna mais a intensidade dessa expressão do inexistente se fazia aumentar.

Conforme entravam percebia-se que a gruta deixava de ser natural e sua parede ia, aos poucos, sendo construída de pedra trabalhada em um quase degradê. Chegaram então em uma sala, uma mulher estava acorrentada à parede. Vestia vestes brancas extremamente limpas, seu cabelo era um preto vivo que descia até seus ombros e seus lábios eram os mais molhados e desejáveis que poderia existir.

-Telldrasil. Direi o que queres, mas vá logo embora daqui, não gosto de sua presença. Não me julgue mal, é, de fato, um grande e bom homem, mas se pode ver a desgraça saindo dos seus pulmões enquanto respira.

-Disse o mesmo quando estive aqui pela última vez e nada ainda aconteceu comigo, muito pelo contrário, o reino próspera, meu amado oráculo.

-É que tragédia é tragédia de uma vez, a desgraça não vem aos poucos, assim, haveria tempo para se recompor e o isso seria piedade, e piedade traz bem a quem se dá, logo é um bem. Mas isso, de que a tragédia cessa e continua seu trabalho mais tarde, não é possível, pois a tragédia é um mal. Um mal que não mata, pois a morte é o fim de uma boa vida, mas também do sofrimento em vida, logo é, também um bem. Foi um bem o que aconteceu a todos os outros reis das lembranças antes antes de você. E você, Telldrasil, não morrerá tão cedo, assim, muita desgraça irá lhe acontecer. Mas, se veio perguntar coisas sobre coisas boas em o seu reino, ficará feliz, pois, o que tem de esperança para com ele se realizará. Digo que brevemente terá um filho e esse será homem, bravo, valente, justo e um rei melhor do que você jamais será. Este reino irá prosperar em dinheiro, terá um tesouro real dez vezes maior do que o seu bisavô. Já você, Telldrasil, você deve desistir das suas esperanças, pois, por ela irá destruir aquele que te criou. As suas esperanças trarão tuas desgraças, livra-te desse teu desejo de ter esperanças, por ela terá as botas atravessadas por pregos e por ela será pai do teu irmão. Agora saia, antes que tua desgraça me afete ainda mais.

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