quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A beleza


Sentar-se a sombra de uma árvore é o que para fazer de melhor. Pensou Artor antes de levantar-se, tirar as folhas do escudo espelhado e beber um pouco de água do cantil feito com chifre de bode das montanhas.
Artor era um aventureiro que nunca teve uma flecha cravada ao calcanhar ou joelho. Ele pertencia a classe que era geralmente chamada de Paladino da Natureza. Um Paladino da Natureza nada mais é do que um guerreiro que defende a justiça do Deus do Universo, Princípio Primeiro, no(s) mundo(s). Esta classe é reconhecida a distância por todo e qualquer que tenha algum conhecimento sobre os deuses. Todos eles portam uma espada com cabo de bambu e tem olheiras profundas por nunca dormirem.
É muito comum que aqueles ligados ao clericato desejem uma aparência física com a do seu Deus, mas, no caso dos Paladios da Natureza não há muito o que se fazer. Um dos seus juramentos é não dormir até que toda a injustiça tenha um fim no universo, até que todos vivam em paz com seu trabalho e todos sejam tomados pela sabedoria e pelo amor um Paladino da Natureza não pode dormir. Isso lhe dá olheiras que fazem com que pareçam-se com seu Deus, que muitas vezes é representado pela figura de um urso panda.
Artor portava uma camisa branca abaixo da cota de malha preta, assim como ordenava a classe. Da mesma maneira seu escudo espelhado era branco de bordas pretas.
Aquele era um dia calmo. Tinha viajado a pelas estradas do rei durante dois dias logo após que saiu da estalagem. Até então o Deus do Universo não lhe dera nenhum desígnio, missão, nenhum indício de para onde ir, apenas quis observar a natureza que era bela.
O que é a beleza? Artor pensou em voz alta alguns passos depois. As palavras saíram por sua boca quase sem perceber. O Deus do Universo criou a beleza, e talvez pudesse avisar a deusa da beleza que devesse enviar alguém para que lhe respondesse aquela pergunta. Assim foi feito. Uma dama de vestido branco saiu por de traz de uma árvore e o perfume de seus cabelos passava pelo vento para seus pulmões como mágica.
    • Ser belo é brilhar! Disse a mulher com a voz de sereia, tão calma e leve quanto areia.
    • Deve tomar cuidado com esses campos, senhorita. A moça pode encontrar alguns problemas por estes caminhos.
    • Sei que me protegeria, se eu precisasse, jovem Paladino.
Estava apenas passando para recolher maças das árvores e não pude deixar de ouvir seu questionamento. Posso por acaso ajuda-lo?
    • Ora, isso quem pode me dizer é você, moça. Pode, por acaso, me ajudar a encontrar qual a origem da beleza e me fazer assim ter mais sabedoria na minha mente e no meu coração?
    • Claro que posso, pois ouvi palavras divinas. Palavras divinas também sei pronunciar.
    • Antes de mais nada, moça. Pode me dizer com quem tenho a honra de conversar e aprender sobre a beleza?
    • Minha mãe me deu o nome de Alfa em homenagem a deusa da beleza. Mas, pode-me chamar de amiga, de amor, de minha deusa, do que desejar. Por ter esse nome quis saber das questões da beleza desde que nasci. E tu, senhor? Vai me fazer a cortesia de dizer seu nome?
    • Me chamo Artor Darkasuda, sou Paladino do Natureza, do Deus do Universo criador dos deuses e dos mundos. Procuro o bem para tudo que há e desejo ser o caminho para a justiça. Peça o que quiser, senhora. Se isso for bom, procurarei realizar. Eu, portanto, te peço algo bom. Moça, diga-me, qual a origem da beleza?
    • Certo, Artor. Peço então, em troca, algo bom. Peço que me escute com atenção, pois, estas palavras são verdade.

“Deus Panda, o Deus do Universo, decidiu, certa vez, criar o homem. Criou então Proépis. Para Proépis o Deus Panda deu o presente de viver no mundo. No mundo existiam as árvores, as águas, o solo e os animais. E certa vez Proépis invocou ao Deus do Universo.
    • Oh, Deus Panda. Tu és de tudo o mais sábio. Sabe muito bem que preciso de alguém do meu sangue para dividir meu nome, para conversar no mundo. Preciso de um amigo, de um irmão.
    • Ora, isso causará uma divisão. Se queres uma amigo que seja pra ti como irmão, este terá que sair de ti. Terá então que dividir seus dons. É isso que quer? - Disse então o Deus Panda.
    • É isso sim que quero. Divida então para que eu tenha a máxima prudência e possa sempre pensar a frente e que meu irmão viva sempre a vida de agora, sendo o mais espontâneo.
    • Assim será, pois, tem uma boa alma.

O Deus Panda assim dividiu Proépis. Criou então Prometeu aquele que pensa antes e Epimeteu aquele que pensa depois.
Epimeteu começou a dar nomes aos animais, plantas, solos... Só que sempre dava um nome diferente todas vez que falava. Prometeu deu a ideia de dar nomes fixos para tudo no mundo, e junto com os nomes Epimeteu poderia dar-lhes também o seu talento. Assim fez, e dividiu os nomes e talentos, só que esqueceu de dar talento ao bicho homem. E quando Prometeu viu isso ficou triste.
Decidiu então roubar uma fagulha do fogo mágico do Deus Panda. O deus Panda deixou e fingiu não saber do que estava acontecendo. Tempos mais tardes O Deus Panda desce a terra para conversar sobre o ocorrido.
    • Ora, achou que eu não ia perceber? Uma fagulha? Devia ter dado os talentos para os homens você mesmo Prometeu, ou não imaginou que Epimeteu poderia falhar?
    • Senhor do Universo. O quer queres que eu faça, deixe parte da tua criação sem talento algum?
    • Não, isto também seria errado. De certa forma você foi justo, pois deu o tesouro a um necessitado. Mas de certa forma foi errado, pois tirou algo de alguém. Como consequência lhe darei algo que de certa forma é das maiores dádivas e de certa forma é dos piores castigos.

Deus Panda voltou ao céus dos Pandas e criou um presente. Deu a oportunidade de cada
Deus ajuda na criação. O deus da palavra deu ao presente a arte de dizer palavras capazes de acalmar e de ludibriar. A deusa da Sabedoria lhe deu a arte da estratégia da vida...
Prometeu logo chegou em casa e avisou a Epimeteu para não receber nada que o Deus
Panda lhe enviasse, mas quando chegou do trabalho na plantação avistou o presente dos deuses
sentada em uma cadeira.
- Ela brilha. Disse Prometeu ao ver a primeira mulher.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Olá Amrod

Amrod estava na sua sala de estudos, ou em uma das várias, em sua infinita biblioteca, de vários e vários quilómetros e andares. Foi quando três gotas de luz caíram do teto, como aquelas goteiras que se tem em dia de chuva. Mas não há goteiras no castelo do elfo Amrod, é um castelo mágico, como poderia haver goteiras? Ainda mais, goteiras de luz...

As gotas se espalharam pelo chão, formaram uma poça de luz. Um metro de diâmetro. Da poça de luz saiu um clarão que tomou-se como um feixe até o teto, depois toda a sala, como um relâmpago.

-Três gotas de Luz. Trinta planos de distância. Foi uma viajem longa, não, Artor Darkasuda? - Perguntou Armod, com seu cabelo branco e longo jogado sobre o livro que lia.

-É, viajei trinta planos, dez para cada gota.

Era Artor. Vestido em uma armadura de prata forjada com Opala e um Mitril com esmeralda. Seus cabelos estavam molhados, como se estivessem saídos da chuva.

-E o qual o motivo dessa sua ilustre presença? Perguntou o velho elfo psicanalísta.

-Eu vim agradecer. Veja o que sou hoje, tenho a felicidade, tudo o que preciso. Venci a batalha com os Zumbis, e a guerra está tendo bons resultados, as batalhas são sangrentas, mas, cada vez mais zumbis voltam a vida. Eu consegui a armadura que precisava para poder me proteger de todas as sombras, e tenho comigo uma espada capaz de cortar toda a injustiça. Estou bem, feliz... e você me guiou para esse caminho, sábio elfo. 

Nesse momento Artor toca na Opala cravada no cabo de sua espada longa, rapidamente as paredes se distorcem e estão uma sala de um castelo, com o tesouro. Vários itens mágicos brilham a sua volta. Há além do castelo uma floresta, que é quase tão bela quanto os olhos castanhos daquela linda menina... há montanhas, há um vale...

-Diga-me o que quer de presente, sábio elfo. Já sei qual será sua resposta, mas me ensinou a ser educado também. Quero que escolha qualquer coisa que possa te dar.

-Já sabe que não quero nada.

-Como pensei. 

Em um piscar de olhos estavam na sala de estudos de Amrod Ingloriom.

-Ainda não sei tanto quanto você, Amrod. Sei o que você quer, mas, o que há por trás de seu desejo.

-Sabe muito bem o que quero. Não quero nada, já tenho o que quero. E você também... olhe. Recebe agora minha alta, não precisa mais das sessões de psicanálise que te fazia antes. Está curado, está feliz. Perceba que o teu trabalho segue em rumo firme, mesmo com crise, tem todo o ouro que precisa... e sabe que o mundo é cheio de amor.

-Claro, sei disso tudo. Me sinto em paz, alegre, completo, sereno...

-Nós dois. Afinal, somos todo parte de um ser uno. Somos frutos de sua mente, somos a alma do Ser, que é. Você é a parte irascível, e eu represento o logisticon.

-Sim, entendo... mas o que é aquilo que nutre, que tem nos dado força.

-Ora, Artor, o Ser, que é, parece que tem sua parte da alma que o nutre. E aqueles olhos castanhos tem dado muita força ao Ser. Ele não é idiota, ele é sábio, sabe que tudo pode mudar e voltar a ser como era. Mas o Ser está feliz, sua alma está em paz.